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O que é encefalite?

O sistema nervoso central é dividido em encéfalo e medula espinhal, protegidos pelo crânio e coluna vertebral, respectivamente. Por sua vez, o encéfalo é formado pela associação do cérebro, cerebelo e tronco cerebral. Encefalite é o termo que designa inflamação do encéfalo, podendo ser acompanhada de concomitante acometimento de meninges (meningoencefalite) ou de medula (encefalomielite).

É uma condição clínica complexa, com potencial de gravidade e considerável letalidade. Seu manejo acaba sendo um desafio, já que o diagnóstico diferencial é amplo, muitas de suas causas não possuem tratamentos específicos, pode ter progressão rápida e, frequentemente, há necessidade de cuidados em unidades de terapia intensiva.

Acomete pessoas de qualquer faixa etária, mas tem predileção pelos extremos de idade (crianças e idosos). Nos Estados Unidos da América, estima-se que ocorra anualmente 1 caso de encefalite a cada 100 mil habitantes.

Ainda que os vírus sejam os maiores responsáveis, diversas são suas causas. Vejamos as principais:


1- Não-infecciosas:

  • autoimunes - encefalomielite aguda disseminada, anti-NMDAR, anti-VGKC.

  • neoplásicas ou paraneoplásicas (tumores malignos) - encefalite límbica.

  • vacinas - raramente.

2- Infecciosas

  • virais - herpes vírus, enterovírus, caxumba, sarampo, influenza, adenovírus, vírus da coriomeningite linfocítica, Sabiá, Lassa, dengue, chikungunya, Zika, Ebola, Coxsackie, HIV e outros;

  • bacterianas - Treponema pallidum (sífilis), Listeria monocytogenes, Mycobacterium tuberculosis, Mycoplasma pneumoniae

  • fungos - Candida sp, Criptococcus neoformans, Aspergillus sp.

  • protozoários - toxoplasmose

Apesar de todas essas causas, a encefalite não é uma apresentação habitual da maioria dos agentes etiológicos. Costuma ser uma complicação rara de doenças comuns, exceto nos vírus que primariamente acometem o encéfalo, como por exemplo, os vírus da raiva e da encefalite japonesa. Para os outros vírus, encefalite é complicação felizmente rara. Ademais, as principais causas não são de transmissão interpessoal.

Sendo assim, surtos de encefalite dificilmente ocorrerão por agentes cuja manifestação clínica primária não seja no sistema nervoso central. Epidemias de dengue ocorrem e são frequentes no Brasil. Quantos mais casos dessa virose surgirem, maior a chance de casos raros serem diagnosticados, inclusive encefalite. Todavia, é pouco provável uma epidemia de encefalite por esta arbovirose.

Não há marcadores clínicos ou laboratoriais que indiquem predisposição para desenvolver encefalite.


QUADRO CLÍNICO


Os sinais e sintomas vão depender da causa. Nas virais, os pacientes podem apresentar febre, mal estar, dor de cabeça intensa, convulsões e sinais focais (como boca torta, diminuição da força em um lado do corpo, dificuldade de falar). Pode também apresentar os sintomas da doença de base, como dengue, gripe, herpes, etc. Adultos e, principalmente, idosos com varicela podem desenvolver encefalite após as lesões cutâneas típicas da catapora.

A característica clínica mais importante é o rebaixamento do nível de consciência. Pode começar com confusão mental e evoluir para sonolência excessiva e estado comatoso. A evolução tende a ser rápida. Em alguns casos, a doença leva ao coma em poucas horas.

Quando as meninges também estão inflamadas, rigidez de nuca e outros sinais pesquisados pelo médico podem estar presentes (sinais de Brudzinski, Kernig e Lasègue).

Os sintomas são todos inespecíficos e devem ser analisados em conjunto e criteriosamente pelo médico para haver suspeita clínica. Alguns achados podem sugerir uma ou outra causa. Veja a tabela abaixo:



DIAGNÓSTICO


História clínica e exame físico bem feitos são as principais ferramentas para o médico diagnosticar encefalite. Exames de imagem, principalmente a ressonância magnética do crânio, podem ser úteis.

O mais importante exame complementar para confirmação diagnóstica é a coleta do líquido cefalorraquidiano (LCR). Para isso, há a necessidade de punção lombar por médico habilitado. Nesse fluido, pode-se dosar a quantidade e o tipo de células, além da glicose, proteínas e outros marcadores. O isolamento viral é capaz de demonstrar se um vírus foi a causa da doença. Infelizmente, poucos são os laboratórios no país habilitados para isolar vírus no LCR. Sendo assim, os resultados são demorados e tem mais importância epidemiológica do que para decisão terapêutica.

Exames de sangue são de pouca valia para o diagnóstico.

A despeito de todo aparato tecnológico, em até dois terços dos casos a causa permanece desconhecida.


Punção lombar para coleta de líquido cefalorraquidiano



TRATAMENTO


O tratamento é de suporte na maioria dos casos. Ou seja, manter pressão arterial estável, boa oxigenação dos tecidos, manutenção de níveis adequados dos eletrólitos (sódio e potássio, por exemplo), anticonvulsivantes quando necessário. Frequentemente, cuidados em unidade de terapia intensiva são requeridos.

Em casos específicos, como na encefalite por herpes vírus, antivirais são de grande importância para o tratamento. Em encefalites autoimunes, imunoglobulina e/ou imunossupressores podem ser essenciais.


PREVENÇÃO


Por ser uma doença com inúmeras causas, não há uma maneira específica de prevenção. Para os agentes imunopreveníveis, como caxumba e sarampo, as vacinas são suficientes. Para doenças autoimunes, não se conhece formas de se evitar.

Para dengue, Zika, chikungunya e outras arboviroses, a eliminação dos criadouros de mosquitos é a principal medida, O uso de repelentes é útil, mas confirma a falência da sociedade em controlar o vetor (mosquito). Ninguém sabe ao certo qual será a consequência de se aplicar essas substâncias na pele diariamente e por tempo prolongado. Se todos aqueles que ouvissem ou lessem mensagens sensacionalistas em redes sociais também procurassem e eliminassem possíveis focos de mosquito (água parada), nossos infantes estariam bem mais protegidos...

REFERÊNCIAS

1- Silva Marcus Tulius T. Viral encephalitis. Arq. Neuro-Psiquiatr. [Internet]. 2013 Sep [cited 2018 July 17] ; 71( 9B ): 703-709. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2013001000703&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/0004-282X20130155.


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4- Britton, P. N., Eastwood, K. , Paterson, B. , Durrheim, D. N., Dale, R. C., Cheng, A. C., Kenedi, C. , Brew, B. J., Burrow, J. , Nagree, Y. , Leman, P. , Smith, D. W., Read, K. , Booy, R. , Jones, C. A., , , , , , and , (2015), Consensus guidelines for encephalitis. Intern Med J, 45: 563-576. doi:10.1111/imj.12749.


5- Venkatesan A. Epidemiology and outcomes of acute encephalitis. Curr Opin Neurol. 2015 Jun;28(3):277-82.


6- Armangue, Thaís, Frank Leypoldt, and Josep Dalmau. “Auto-Immune Encephalitis as Differential Diagnosis of Infectious Encephalitis.” Current opinion in neurology 27.3 (2014): 361–368. PMC. Web. 18 July 2018.







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